quinta-feira, 26 de agosto de 2010

INTERVALO 2

Aproveitando a onda de inspiração, faço mais um intervalo, com espaço pra mais um poema de madrugada...

esse chama-se CERTES:
e é de novo pra vc Nat...

Sob a luz de minha missão no mundo
quem m'invade tão terrível e fundo
é o amor e seu furor à vista!
É o amor de nada egoista!

Por teu riso dou fava contada,
com você não quero mais que nada,
pois sem ti melhor qu'inexistisse
sem teu beijo nada, superfície...

Vê agora, sei que já m'entende
a juventude que de certo rende,
a burrice de quem tem em conta
a mulher que és já mais que pronta!

Minha esperança mesmo mais modesta,
nunca viu beleza mais em festa
que tua pele, teu perfume e cor
tenho sorte de te ter amor

Pois as letras já não vêm sem flor
do teu lábio que me beija por
um sonho de te ter sem traço,
de viver no teu gostoso abraço
alegrias e amor sem fim,
de te ver sorrindo só pra mim.

Dia hei de expiar meu ogro,
hei um dia d'encontrar meu logro
de fazer-te minha mulher então
pra vivermos juntos, mão em mão.

Intervalo

Galera, no intervalo entre a publicação da segunda e a última parte de "A tragicômica morte de Darcy Sujeira", aproveito para publicar um pequeno versinho, escrito ontem, de madrugada, para a Nat (só pra variar um tiquinho...heheheh)

chama-se:

JALUZIA

A ferro e fogo apago o ogro qu'existe em mim.
Só nunca renego o tropeço no prego que me fere assim.
Tão fundo, de jeito...Fecundo no peito a dor parece não ter fim.
Mas você é musa, faz magia e usa dom qu'apaga ciúme sim.
Dia hão de t'aplicar pra cancro, asma e tédio,
pois só minha musa sabe ser remédio pra dia ruim.

por Gustavo Caldas Brito

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

SEGUNDA PARTE DE: A tragicômica morte de Darcy Sujeira

Escuta que vou voltar a contar!!!
No caso do Geraldo, nem sei como Dona Lola fazia,porque ele era feio até de costas...bom,problema dela enfim...o meu problema foi ter que assistir todas aquelas cenas desagradáveis,bem em cima da coitada da mimosa,que a partir daquele dia passou a ter uma tatuagem/mancha no olho esquerdo. Geraldao e Dona Lola já se recompunham para uma eventual segunda rodada e o cafezinho quando o motor do carman guia do seu Jorginho anunciou sua chegada. Putaquemepariu,exclamei sem respirar,sentindo um calafrio subir-me a espinha. Ia dar merda. Sorte do Geraldo que o armário da sala tava vazio,foi la mesmo que Dona Lola o escondeu. Foi a porta do armário se trancar pra da sala se abrir,entrando por ela um Jorginho sorridente de orelha a orelha:
-Lolita,olha o tamanho da rolinha que peguei! Desse tamanho já nem é mais rolinha,posso chamar até de rola né querida?
-ai Jorge,que nome feio,fica até mal você sair espalhando por aí que foi catar rola no mato... (dentro do armário Geraldo se segurava pra não se urinar de tanto rir)
-você tem uma mente doentia sabia? -respondeu papai.
-eu não...tava aqui preparando a rabada do almoço e vc me vem com essa história de rola,quer que pense em quê?
Enquanto o bate boca foi parar no quarto, Dona Lola mal podia imaginar o problema que a esperava no fundo do quintal... La estava Darcyzinho,o filho mais novo da vizinha de esquina,já de muro (ou cerca) pulada,metade do fecho eclair aberto,pronto pra aproveitar a suposta ausência de Jorginho! Dona Lola imaginara uma longa caçada de papai e já tinha agendado uma sobremesa com o adolescente espinhento.
Foi ela dar um pulinho nos fundos pra pegar a cueca nova do Jorginho e dar de cara com Darcy:
-jesus amado! - exclamou assustada.
-que é que tu tá fazeno aqui moleque,meu marido chegou mais cedo!
Darcy usou então uma expressão que daria origem ao apelido que o iria acompanhar até o caixão:
-sujeira!
-sujeiraça - replicou Mamãe - foge daqui Darcyzinho,se Jorginho te vê assim é capaz de te dar uma surra com o estiligue dele!
Enquanto isso, Jorginho tava la,peladao no quarto,esperando já impaciente pela cueca do varal. Incomodado com tanta demora, foi ele mesmo ver o que prendia sua esposa no quintal.
La nos fundos Dona Lola tentava,desesperada,convencer Darcyzinho a subir a calça que já tava nas canelas e voltar outro dia,mas o jovenzinho estava com os hormônios a pulsar e numa medida impensada resolveu se jogar pela janela da sala,caindo bem na minha frente...pergunto: onde vocês acham que ele se esconderia? No armário,óbvio.
Por obra e graça de deus,Geraldo era franzino e tava de bom humor,dando de cara com Darcyzinho,emendou logo de prima:
-entra aí filhote,onde come um,comem dois!
Sorte,muita sorte da mamãe. Papai apareceu no quintal e la estava Dona Lola,cueca na mão,álibi garantido,nada a declarar.
Cueca vestida,Jorginho se viu no direito de reclamar pela prometida rabada da sua senhora (rabada=comida=alimento). Como de hábito,sentou-se no sofá,ligou a telefunken (não sem antes resmungar que a imagem tava uma merda de novo) e esperou pelo almoço. Comia como um pacha o Jorginho...empanturrou-se de rabada,comeu um quindinzinho e quando ia se levantando pra ir ao quarto fazer a siesta notou algo estranho: seu pé direito havia grudado no olho esquerdo da mimosa...
-que porra é essa agora?!
Tão grudado tava a sola do seu sapato que quando fez força acabou se descalçando! Me lembro bem da cena e peço licença para narra-la em slow-motion:
Ao se descalçar,papai perdeu o equilíbrio e foi bruscamente tombando pra frente. No que tombava,o velho estilingue,sempre à mão,voou até o armário,atingindo a porta direita. Atrás dela estava Geraldo,que não se conteve e soltou um "fudeu!" baixinho,mas suficiente pra papai abrir a porta.
É nessas horas que vemos amigos,a verdadeira solidariedade proletaria/suburbana. Geraldo não tinha escapatoria,mas nem por isso entregou Darcyzinho,que já borrado de medo,resava pra Santo Antônio,Santa Gertrudes e todas as outras santidades que lembrava.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A tragicômica morte de Darcy Sujeira

por Gustavo Caldas Brito

Daqui do alto do meu puleiro vi "quase" de tudo nessa casa. De despacho na sala de estar a dois amantes no armário. Confesso que muitas vezes tentei gritar,mas como só repito,não conhecia a palavra socorro...nem meus donos!

Meu pai,Seu Jorginho, era comerciante/traficante de aves raras,flamenguista de quatro costados e senil já na tenra idade (isso explica a preferência esportiva). Minha mãe era Dona Lola (ela detestava ser chamada assim,por isso insisto),mulher do norte,forte,de traços duros,cadeiras bem desenhadas e uma volúpia que deus me livre! Desculpem se não descrevo nosso bairro,ou ao menos nossa rua,daqui de cima vejo a sala,escuto banheiros e cozinha,mas da porta pra fora é o que Platão chamava de "além-caverna",nunca tive a chance.

Nossa sala era,pra ficar no mínimo,um bordel. Centenas de bibelôs,um urubuzinho do lado de São Judas Tadeu,um tapete de couro de vaca que,se pudesse falar,faria mais estrago que eu (e ao qual chamo "mimosa"),uma telefunken das antigas e um sofá gozado (gozado de engraçado,estranho ok?). Tá! Era gozado também. Minha sala é minha sala porque meus donos eram meio porcos e loucos,curtiam meus comentários durante a novela das oito. Pra começar,nem era pra eu estar aqui,era pra eu estar com a prima da Dona Lola,a Tita,uma deliciosa sambista bronzeada e solteira,autobatizada "beata dos infernos". Mas por infortúnio vim parar aqui,o Carlão (amante ou pau amigo da Tita, chamem como quiserem) não gostava muito de bichos,dizia que lembrava bichas,e por isso fui doado/despejado pra casa do Seu Jorginho e Dona Lola...

A rotina dos meus pais era bem agitada,pro trabalho e pro lazer. Durante a semana Jorginho passava o dia nas matas,caçando pardal,andorinha,periquito e araras enquanto aqui vinha sempre um pessoal passear nas matas da Dona Lola (parece que estavam atrás da periquita dela). É isso mesmo, Dona Lola era uma safada, daquelas de quatro costados,de ladinho e de tudo quanto é jeito! Era o Seu Jorginho virar as costas para os leiteiros da rua correrem para a ordenha diár...calma aê,vem gente aí! Daqui a pouco continuo.

Ah...tudo bem,é a Tita...olha que gostosurice latente! Não fosse o Carlão eu olharia pra isso tudo todo dia...merda! Vida de papagaio é difícil cara,se a gente repete muito neguinho fica puto,se repetimos pouco ameaçam jogar a gente fora!
Mas enfim,deixa ouvir aqui a conversa:

Carlão - ô nega,esse papagaio ainda tá vivo?
Tita - ele é lindo né,tão meiguinho,olha a carinha de tadinho dele!ehehheheh
Carlão- meiguinho pra mim é viado e viado tem que morrer!
Tita- quê isso Carlão,trauma do seu pai?
Carlão- já te falei pra não falar do papai assim,ele não é viado,é homossexual...
Tita- ah tá...tá bom...

*a conversa se muda para a cozinha

Ahahhahha,a Tita não perde a chance de alfinetar o Carlão! Sacanear um Creoulo (pelo porte e pela largura é Creoulo com "e" de energumeno) era um perigo gigante,ainda mais sendo o Carlão uma completa besta. Mas por trás da besta do Carlão havia um dócil e amável idiota,que corria atrás da Tita que nem cão abandonado. Cão abandonado que virava gato e sapato pelos caprichos da Tita.
Por falar em gato e sapato,lembrei de gato e rato,que me leva aos meus pais e a estória que vou contar se vocês ainda não tiverem atingido aquele ponto de querer me depenar e cometer suicidio coletivo.

Outro dia Jorginho saiu bem cedo pra caçar maritaca,deixando pra trás um tempão disponível para o bel prazer de Dona Lola. Aquele não era dia de leite ou leiteiro, era dia do Geraldo,pedreiro que tava restaurando a pensão do outro lado da rua. Nunca entendi o motivo de Dona Lola aceitar o Geraldo como amante,porra,o cara era zureta,manco e magricela! Mas Dona Lola já dizia: "quem vê cara troca logo a posição!". Dona Lola e suas tiradas maravi...porra, lá vem gente de novo! Me dá um minuto que continuo depois...